05/10/2009

BANDA DE ALÉM ou BANDA D’ALÉM (Sítios da)

Banda de Além - Madalena do Mar
(Foto do autor)

BANDA DE ALÉM ou BANDA D’ALÉM - Topónimo constituído por composição de palavras, onde a primeira significa, lado, margem e a segunda expressa a ideia de para o lado de lá de.
Neste contexto, o topónimo “Banda de Além ou Banda d’Além” genericamente pode significar, “para o lado de lá da margem”, no sentido óbvio à localização geográfica do lugar, demarcado por um curso de água, no caso da Ilha da Madeira, por ribeiras. Assim, poderemos encontrar sítios com estas características geográficas e denominadas pelo topónimo “Banda de Além ou Banda d’Além”, nas freguesias da Madalena do Mar, da Ribeira Brava, do Caniçal e de Machico.



Banda de Além (Pico e Cruz da) - Ribeira Brava
(Foto do autor)


Caniçal
(Foto do autor)



Machico
(Foto do autor)





A Aluvião de 9 de Outubro de 1803 e a Capela de Cristo ou do Senhor dos Milagres

Banda de Além - Machico


Capela de Cristo ou do Senhor dos Milagres
(Foto do autor)

Na cidade de Machico, na margem esquerda da ribeira do mesmo nome, no sítio da Banda de Além, encontra-se a Capela do Senhor dos Milagres. É uma das mais antigas capelas do arquipélago madeirense, sendo considerada um monumento. Segundo alguns cronistas e historiadores, foi o primeiro (?) templo que se erigiu na Ilha da Madeira. Actualmente, aqui se venera a imagem do Senhor dos Milagres, que é objecto duma grande romagem por parte dos madeirenses, que se realiza no dia 9 de Outubro, data comemorativa da grande Aluvião de 1803, uma das maiores catástrofes de que há memória na Madeira.



Capela de Cristo ou do Senhor dos Milagres
(Pormenor interior - Foto do autor)

A respeito desta Aluvião de 9 de Outubro de 1803 e relativamente a Machico, lê-se o seguinte no Elucidário Madeirense: «(...) demoliu a muralha da ribeira, abateu a ponte e invadiu a vila de tal sorte que chegaram as águas á altura de três côvados na igreja e em todas as ruas. Esta inundação prometeu a todos a morte; mas um prodígio evidente fez que se salvassem todos, excepto catorze pessoas que pereceram arrastadas pelas águas e aterrados nas casas. Também demoliu a antiga e histórica capela do Senhor dos Milagres, tendo a respectiva imagem sido encontrada dias depois, no alto mar, por uma galera americana, que a fez depositar na Sé do Funchal.»



Porta da Capela de Cristo ou do Senhor dos Milagres
(Foto do autor)

Ainda sobre esta capela descreve-nos o mesmo Elucidário, que «(...) da construção primitiva restam talvez apenas a porta ogival e as cruzes do frontispicio, que constituem a parte caracteristica do pequeno templo. A grande aluvião de 1803 deixou-o em completa ruína, sendo quasi inteiramente reconstruído no ano seguinte, pelos irmãos da Misericordia. Houve o cuidado de conservar-lhe a primitiva feição arquitectonica, o que igualmente se deu quando há cêrca de meio seculo se procedeu a uma nova reedificação.»



Capela de Cristo ou do Senhor dos Milagres
(Foto do autor)

A 3 de Novembro de 1956, a Capela do Senhor dos Milagres foi novamente acometida por uma aluvião que a inundou com 1,80 m altura de água. Referindo-se a esta aluvião relata-nos as Ilhas de Zargo: «(...) mais uma vez foi atingida pela cheia da Ribeira, que a margina, a capela do Senhor dos Milagres, construída primitivamente pela Ordem Militar de Cristo, no local onde se celebrou a primeira Missa da descoberta da ilha (…). Situa-se esta capela na Banda d’Além, a leste da Vila de Machico, bairro de pescadores, que sofreu o mais violento embate da corrente, arruinando algumas habitações.»



Lápide em cantaria rija, evocativa da Aluvião de 3 de Novembro de 1956
(Foto do autor)


Por ocasião das celebrações bicentenárias da Aluvião de 1803, a Paróquia de Machico, a 9 de Outubro de 2003, legou-nos a resenha histórica da capela e imagem do Senhor dos Milagres, através de postais, pelo saudoso Padre António Joaquim Figueira Pestana Martinho, a qual transcrevemos na integra:





«Segundo um opúsculo de 1886 “A Capela”, primitivamente conhecida pelo nome da Visitação ou Misericórdia e hoje do Senhor Bom Jesus dos Milagres, foi erguida no lugar onde foi celebrada na Madeira a primeira Missa por um religioso de S. Francisco, aos 2 de Julho de 1419. Em 1755 foi invadida pelo mar, influência do terramoto de Lisboa.
A calamitosa inundação de 1803, invadiu também este edifício, demolindo-lhe capela-mór e derribando o altar lateral, à direita de quem entra... Reedificaram-na em 1810 sem em nada a alterarem da construção primitiva. Em 1862, o tecto ameaçava ruína e o pavimento. Demoliram-lhe as paredes e reconstruíram-nas até à altura do travejamento.
De 1865 a 1866 foi construído o tecto. Em 1877 a capela foi assoalhada, chispadas e rebocadas as paredes, estucado o tecto e feito coreto. Em 1880 os altares e os cancelos. Em 1883 foi feita a sacristia e em 8 de Outubro, desse ano, foi feita bênção da capela restaurada pelo Senhor Bispo D. Manuel Agostinho Barreto. Em 3 de Novembro de 1956, novamente foi invadida por um aluvião que a inundou com 1,80 m altura de água, destruindo-lhe o soalho e danificando-lhe os altares.
A partir de 1980 foram realizados trabalhos e manutenção e beneficiação, sendo a partir de 2002, totalmente restaurada, no seu novo telhado e em todo o seu interior para as CELEBRAÇÕES BICENTENÁRIAS da Aluvião.
Machico, 09 de Outubro de 2003.
O Pároco: Pe. António J. Figueira P. Martinho»





«Imagem preciosíssima dos princípios do Século XVI, com 0,84 m, foi arrastada para o mar pelo terrível aluvião de 9 de Outubro de 1803, e que deixou também destruída a Capela.
Três dias depois, a Imagem foi encontrada “incólume”, ainda na cruz, “na altura desta paragem” por “uma galera dos Estados Unidos da América do Norte” que a foi entregar na Sé do Funchal.
Em 15 de Abril de 1813 - 10 anos depois - regressaria à Capela no escaler do Cônsul inglês, “todo então iluminado”. Na praia, foi recebida pelo povo e levada em procissão para a Capela.
Em 15 de Fevereiro de 1982, por iniciativa do Pároco, Pe. António Joaquim Figueira Pestana Martinho, deu entrada no instituto José de Figueiredo, na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, para restauro.
Despida das cinco pinturas que lhe fizeram através dos séculos, apenas com raros vestígios e o desgaste dos quase 500 anos da sua existência.
Em 3 de Outubro de 1982, 11 barcos da frota pesqueira de Machico a fizeram regressar de novo à Capela e desde Santa Cruz, onde havia chegado de avião no dia 29 de Setembro, após o demorado e científico trabalho de restauro e tratamento, em Lisboa.
Em cada ano, ao anoitecer do dia 8 de Outubro, é verdadeiramente emocionante o espectáculo dos pescadores e dos devotos, aos milhares, acompanhando com a Imagem do Senhor Bom Jesus dos Milagres, em procissão de acção de graças, expressão viva e admirável de Fé.
Paróquia de Machico, 09 de Outubro de 2003.
O Pároco: Pe. António J. Figueira P. Martinho»


Ribeira de Machico
(Foto do autor)




Bibliografia:

COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
PEREIRA, Eduardo C. N. (1989). Ilhas de Zargo. 4.ª Edição. Câmara Municipal do Funchal. Funchal.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
PESTANA, Padre António Joaquim Figueira (2003). Paróquia de Machico. Postais da Capela do Senhor dos Milagres, alusivos às celebrações bicentenárias da Aluvião de 9 de Outubro 1803. Machico.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.

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