09/03/2008

ACHADA, ACHADAS E ACHADINHA

ACHADA - «Esta palavra arcaica (chada ou chaada), que significava uma pequena chã ou planície, geralmente entre terrenos acidentados, deu, por semelhança, o nome a muitos sítios e lugares deste arquipélago, que ainda actualmente o conservam, sendo apenas usado em acepção toponímica», segundo o Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira.
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"Cabeça" - Achada do Teixeira
(Foto do autor)

O Dicionário de Língua Portuguesa, 6.ª Edição, da Porto Editora, define achada, como sendo um «pequeno planalto encostado ao flanco de uma montanha ou à vertente de um vale» (do Latim applanata, de applanare). Este topónimo é usado igualmente nos arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde e em Portugal Continental, como por exemplo “Achada” no concelho de Mafra e no Baixo Alentejo (Achada do Gamo, Achada de São Sebastião etc.)



Achada do Teixeira - Santana
(Foto do autor)


Sítios e Lugares com o topónimo de ACHADA ou derivado da mesma palavra:


Achada - Pequeno planalto da Freguesia da Camacha, nas proximidades da Igreja (a antiga), em cujo perímetro se encontram um edifício com uma torre com seu relógio (Café Relógio) e uma capela da invocação de São José e a nova Igreja Paroquial. Este lugar pitoresco, actualmente conhecido por “Largo da Achada” é bastante frequentado pelas pessoas que visitam esta Freguesia. No passado era muito conhecido entre os estrangeiros pelo nome de Jogo da Bola e outros jogos desportivos. Foi no Largo da Achada que pela «primeira vez se jogou Futebol em Portugal»;


Largo da Achada - Camacha
(Foto Madeira Arquipélago)

Achada - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura, que também é conhecido pelo nome de sítio da Igreja;
Achada - Sítio povoado e pitoresco da Freguesia do Campanário;
Achada - Sítio povoado da Freguesia do Curral das Freiras;
Achada - Sítio povoado da Freguesia do Porto da Cruz;

Porto da Cruz
(Foto do autor)

Achada - Sítio povoado da Freguesia da Ribeira Brava;
Achada - Sítio povoado da Freguesia de São Roque do Funchal;
Achada (Caminho da) - É conhecido por este nome o lanço de estrada que se prolonga desde o alto da Calçada do Pico na Freguesia de São Pedro, até o começo do sítio do Muro da Coelha, na freguesia de São Roque, no Funchal;


Funchal
(Foto do autor)
(À esquerda no centro da foto, encontra-se a Fortaleza do Pico, onde termina a Calçada do Pico, na Freguesia de São Pedro, tem início o Caminho da Achada, no Sítio da Achada.)

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Achada de António Teixeira - Sítio povoado da Freguesia de São Jorge;
Achada dos Aparicios - Sítio povoado da Freguesia da Serra de Água;
Achada da Arruda - Sítio povoado da Freguesia das Achadas da Cruz;
Achada do Barro - Sítio povoado da Freguesia do Santo da Serra (Santa Cruz). A Freguesia do Santo da Serra é dividida por dois concelhos, Machico e Santa Cruz;
Achada do Boieiro - Lugar do Sítio povoado dos Terreiros, na Freguesia do Campanário;
Achada da Carramancha - Sítio pitoresco da Freguesia dos Canhas;


Achada - Curral das Freiras
(Foto do autor)

Achada do Carvão - Sítio da Freguesia do Curral das Freiras;
Achada do Castanheiro - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura;
Achada do Castro - Sítio povoado da Freguesia das Achadas da Cruz;
Achada do Cedro Gordo-Sítio povoado da Freguesia de São Roque do Faial. Este sítio antigamente designava-se por Chão do Cedro Gordo;
Achada da Cruz - Sitio povoado da Freguesia de Santana;
Achada da Felpa - Sítio da Freguesia de São Jorge;
Achada dos Foles - Sítio na Serra da Freguesia do Estreito de Câmara de Lobos;
Achada do Folhadal - Sítio povoado da Freguesia de São Roque do Faial;
Achada de Gaula - Sítio povoado e bastante pitoresco da Freguesia de Gaula, e que compreende os lugares da Achada de Cima e da Achada de Baixo;


Porto Novo, visto do Largo da Achada
(Foto do autor)

Achada do Gil - Sítio da Freguesia da Camacha;
Achada do Gramacho - Sítio povoado e pitoresco da Freguesia de Santana;
Achada Grande - Sítio povoado da Freguesia de Boaventura;
Achada Grande - Lugar da Freguesia do Monte, que fica entre os sítios do Arrebentão e da Fonte das Moças;
Achada Grande - Sítio povoado da Freguesia de São Jorge, onde se encontra a Igreja Paroquial;

Freguesia da Ilha
(Foto do autor)

Achada dos Judeus - Sítio povoado da Freguesia São Vicente;
Achada da Lagoa - Sítio da Serra da Freguesia da Ribeira da Janela;
Achada e Levada do Poiso - Sítio povoado da Freguesia dos Canhas;
Achada do Linho - Sítio da Freguesia da Boaventura;
Achada da Madeira - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura;

São Jorge (Achada Grande) - Ilha (Achada do Marques) - Santana (Achada do Gramacho)
(Foto do autor)

Achada do Marques - Sítio povoado da Freguesia da Ilha;
Achada do Moledo - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura;
Achada do Moreno - Sítio povoado da Freguesia de Santa Cruz;
Achada do Pampilar - Sítio povoado da Freguesia de Santana;
Achada do Pau de Bastião - Sítio povoado da Freguesia de São Roque do Faial;



Ou Chão do Cedro Gordo
(São Roque do Faial - Foto Madeira Arquipélago)

Achada do Pereira - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura;
Achada do Pico - Sítio povoado da Freguesia de São Jorge;
Achada do Poiso - Sítio na Serra da Freguesia do Curral das Freiras;
Achada da Rocha - Sítio povoado da Freguesia de Gaula;
Achada de Santo Antão - Sítio povoado da Freguesia do Arco da Calheta;
Achada de Santo António - Sítio povoado da Freguesia de Santana, onde se encontra uma capela dedicada a Santo António, construída por meados do século XVI e, reedificada no ano de 1730;


Santana, vista do Homen-em-Pé
(Achada do Teixeira - Foto do autor)

Achada de Simião Alves - Sítio povoado da Freguesia de Santana, que tomou o nome dum antigo colonizador, que ali teve terras de sesmaria;
Achada do Til - Sítio povoado da Freguesia de São Vicente;
Achada da Vigia - Sítio da Freguesia de São Jorge, próximo da costa marítima;
Achada do Vinhatico - Sítio da Freguesia de Santana;
Achadas - Sítio da Freguesia do Porto do Moniz;

Achadas da Cruz
(Foto Madeira Arquipélago)

Achadas da Cruz (Freguesia das) - Achadas da Cruz a Oeste e o Porto da Cruz a Leste, constituem os dois pontos extremos da costa norte da Ilha da Madeira. Esta última freguesia fica encravada entre as freguesias da Ponta do Pargo e do Porto do Moniz, e o seu litoral sensivelmente equidistante das Pontas do Pargo e do Tristão. Confina ao Norte com a Ribeira do Tristão, que a separa da freguesia do Porto do Moniz, ao Sul com a Ribeira da Cruz, que a limita Freguesia da Ponta do Pargo, a Leste com as serras da Freguesia do Porto do Moniz, e a Oeste com o oceano.


Serras, Ponta do Pargo e Achadas da Cruz
(Foto do autor)

O seu «orago é Nossa Senhora do Livramento, achando-se a Igreja Paroquial no sítio chamado da Igreja». Pertence ao Concelho do Porto do Moniz. Tem os seguintes sítios: Pinheiro, Achada da Arruda Igreja, Cova, Lombo do Simão, Achada de Castro e Terça, Quebrada Nova, Quebrada do Negro, Fajã das Malvas, Fajã Nova, Pomar Velho, Risco, Pico da Azeveda etc. São sítios pitorescos e de boas vistas o Pico das Mós, Cabeço do Facho e Pico do Fogo. Pelo Norte e pelo Sul desta freguesia correm as ribeiras do Tristão e da Cruz, que a separam das freguesias confinantes. É irrigada com as levadas da Ribeira dos Moinhos, dos Lagos e do Pico da Arruda. Não tem porto de mar, mas apenas um pequeno Calhau, de difícil acesso. O Teleférico de acesso à Quebrada Nova, facilitou o acesso ao mar dos habitantes locais e turistas.


Teleférico de acesso à Fajã da Quebrada Nova
(Achadas da Cruz - Foto Madeira Arquipélago)


Achadinha - Sítio povoado da Freguesia da Boaventura;
Achadinha - Sítio povoado da Freguesia da Camacha;
Achadinha - Sítio da Freguesia de Gaula;
Achadinha - Sítio povoado da Freguesia do Porto da Cruz;
Achadinha - Sítio povoado da Freguesia de São Jorge; (Neste sítio, permanece uma memória viva do património cultural madeirense edificado-o Moinho da Achadinha-de reconhecido valor etnográfico, com cerca de 300 anos de idade, sendo o seu actual proprietário, o Sr. Lino Albino Mendonça)

Achadinha do Pico - Sítio da Freguesia de Gaula.


Achada de Gaula
(Foto do autor)

Bibliografia:

COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.

01/03/2008

ABRA (Baía da Abra ou Baía d’Abra)


Baía da Abra ou Baía d’Abra
(Foto do autor)

ABRA - Significa baía pequena; angra; ancoradouro; enseada (do francês havre, do germânico hafen). Abra é sinónimo de Baía.
ABRA - Lugar ou Sítio que torneia e domina com picos elevados a enseada da Abra, na Ponta de São Lourenço pertencente à freguesia do Caniçal, concelho de Machico.




Baía da Abra ou Baía d’Abra
(Foto do autor)

No extremo leste da Ilha da Madeira, no litoral sul, entre a povoação do Caniçal e a Ponta de São Lourenço, fica a atraente e pitoresca Baía da Abra, delimitada pelas pontas da Abra e do Furado. Segundo o Elucidário Madeirense, este termo «só é empregado toponimicamente na Madeira». Esta enseada da Abra, de todas as enseadas da Madeira, «é a mais ampla e de maior reentrância, formando uma baía relativamente espaçosa com um bom ancoradouro». Pelo lado oeste, encontra-se uma «saliência de costa marítima, que tem o nome de Ponta de Abra, conservando também o nome de Abra, o sítio que, com picos elevados, torneia a referida enseada e seu porto adjacente». Mais refere o Elucidário que, «no período do governo pombalino», se projectou «construir nessa enseada um porto militar e respectivo arsenal, e, no primeiro quartel do século passado, também se agitou a ideia de estabelecer se ali um pequeno porto de abrigo. Além duma praia ou Calhau, existe ali um cais de desembarque de propriedade particular». O Cais da Abra, foi mandado «construir pelo sr. Manuel Bettencourt Sardinha em 1905», que também construiu uma casa que actualmente abriga os Vigilantes do Parque Natural, responsáveis pela vigilância desta Reserva




Vegetação
(Foto Madeira Arquipélago)

A Baía da Abra faz parte da Reserva Natural Parcial da Ponta de São Lourenço, integrada no Parque Natural da Madeira e constitui um verdadeiro património natural. A sua adjacente superfície terrestre e marinha na costa Norte, até à profundidade dos 50 m, integram a rede europeia de sítios de importância comunitária - Rede Natura 2000.
Geologicamente é admirável a superfície terrestre junto à Baía da Abra pela sua constituição de escórias e tufos “cortada” por filões basálticos de diversas formas.
O clima deste lugar é semi-árido, estando exposto aos ventos predominantes do quadrante norte que acarretam um desenvolvimento de vegetação rasteira. Neste local, encontra-se o «andar basal da Ilha da Madeira» em excelente estado de conservação com plantas raras e endémicas onde se destaca a Perpétua de São Lourenço (Helichrysum devium).

Líquens sobre rochas
(Foto do autor)

Litoral Norte
(Foto do autor)

Litoral Sul
(Foto do autor)

Casa dos Vigilantes do Parque Natural
ou

Casa de «Manuel Bettencourt Sardinha»
(Foto do autor)

Litoral Norte
(Foto do autor)

Litoral Sul
(Foto do autor)


Bibliografia:


JARDIM, Roberto e FRANCISCO, David (2000). Flora Endémica da Madeira. 1ª Edição. Múchia Publicações. Funchal.
FRANQUINHO, L. O. e COSTA, A. (1998). Madeira - Plantas e Flores. 16.ª Edição. Francisco Ribeiro e Filhos. Funchal.
NEVES, Henrique Costa e VALENTE, Ana Virgínia (1992). Conheça o Parque Natural da Madeira. Secretaria Regional da Economia - Parque Natural da Madeira. Funchal.
OLIVEIRA, Paulo (1999). A Conservação e Gestão das Aves do Arquipélago da Madeira. Secretaria Regional de Agricultura, Florestas e Pescas - Serviço do Parque Natural. Funchal.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
 QUINTAL, Raimundo (2003). Madeira, a Descoberta da Ilha de Carro e a Pé. 1.ª Edição. Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal. Funchal.
ROQUETE, J.-I. e FONSECA, José da (1873). Diccionario dos Synonymos, Poético e de Epithetos da Lingua Portugueza. Em Casa de Va. J.-P. Aillaud, Guillard e Ca., Livreiros de Suas Magestades o Imperador do Brasil e El-Rei de Portugal. 47, Rua Saint-André des Arts, Pariz.

ABEGOARIA (Sítio da)

Abegoaria, onde se guardam os burros no Parque Ecológico do Funchal
(Um exemplo de uma abegoaria - Foto do autor)


ABEGOARIA - Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa, 6.ª Edição, da Porto Editora, abegoaria é um «lugar onde se guardam os gados ou alfaias agrícolas de uma propriedade rústica».

Sítio da Abegoaria - Caniço - Santa Cruz
(À direita, a Quinta do Palheiro Ferreiro - Foto do autor)

Pelo Elucidário Madeirense, sabe-se que, a «Quinta do Palheiro» com «as suas matas, os seus pomares, os seus jardins, as suas terras de cultivo, as suas pastagens, os seus lagos, os seus passeios, as casas de habitação, as abegoarias e armazéns de lavoura, na sua vastidão e no seu esmerado cuidado de conservação, dão àquela estancia as proporções duma opulenta e principesca morada e duma grandiosa e imensa herdade». Assim, próximo das antigas «abegoarias» da Quinta do Palheiro Ferreiro, ou na existência de qualquer outra abegoaria no local, nasceu (?) um sítio com o mesmo nome, no espaço geográfico pertencente à Freguesia do Caniço, concelho de Santa Cruz. Por outro lado, como não existe «abegoarias» sem cancelas, «onde se guardam os gados», adjacente ao mesmo sítio da Abegoaria, existe o lugar conhecido por Cabeço da Cancela, onde se situa o Parque Empresarial da Cancela.


Sítio da Abegoaria
(Foto do autor)


O Parque Empresarial da Cancela, com uma área total de 160.000 m2 é constituído por 65 lotes de terreno, com áreas mínimas de 100m2, e máximas de 6.150 m2. Este mesmo parque, da Empresa Madeira Parques Empresariais, S.A., é tutelado pela Vice-Presidência do Governo Regional da Madeira.
Igualmente, no sítio da Abegoaria, encontra-se sedeado o Estabelecimento Prisional do Funchal.


Parque Empresarial da Cancela
e
Estabelecimento Prisional do Funchal
(Foto do autor)

Parque Empresarial da Cancela - Cabeço da Cancela
(Foto do autor)







Bibliografia:

COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto.
SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa.
SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal.
SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal.
Link: Vice-Presidência do Governo Regional da Madeira. Empresa Madeira Parques Empresariais.

Topónimos do Arquipélago: lugares

Prefácio


Marco de limite de concelho
(Machico, Santana e Funchal - foto do autor)

A palavra “toponímia” deriva de duas palavras gregas τόπος (tópos), que significa lugar, e õνομα (ónoma), nome, ou seja, o nome de um lugar. A toponímia estuda os topónimos (nomes próprios dos lugares), a sua origem e evolução. Esta caracteriza-se como parte da linguística, com vínculo à história e geografia de uma determinada região e a interacção com esta por parte dos seus habitantes. Igualmente, os topónimos madeirenses estão ligados à história e geografia do arquipélago, onde os descobridores e primitivos povoadores empregaram vocábulos para designar coisas e lugares. Assim, estes vocábulos, convertidos em nomes próprios, em cinco séculos da história das ilhas conservaram-se alguns, quase inalteráveis até aos dias de hoje.

Baía de Machico
(Foto do autor)

Com a chegada dos descobridores e primitivos povoadores às ilhas do arquipélago madeirense, logo procederam a uma rápida exploração através do litoral, onde efectuaram desembarques e reconhecimentos nos pontos de acesso fácil, por forma a preparar o movimento colonizador ou povoador, que iria desde logo iniciar-se nas décadas seguintes à data do descobrimento ou reconhecimento. Muitas saliências da costa marítima, portos naturais, ribeiras, elevações montanhosas, lombos e lombadas, vales e escarpas, receberam então o seu baptismo, ficando os seus nomes para sempre inscritos na memória dos seus descendentes.

Jamboto, Lombo dos Aguiares e Lombo Jamboeiro
Lombos: de João Boto, dos Aguiares e de João Boieiro
(Foto do autor)

A maior parte desta memória, actualmente, encontra-se inscrita em placas solitárias, que ilustram aos visitantes e locais os nomes de sítios e lugares. Estes nomes têm cada um a sua designação envolta numa crónica histórica, muitas vezes perdida no tempo, por desuso, por corruptela ou pela evolução linguística onde se transformaram em topónimos que há primeira vista não correspondem ao seu significado próprio e absoluto.
Nesta perspectiva, podemos dar por exemplo os topónimos, Jamboto, Jamboeiro e Trapiche, todos sítios povoados do Funchal, onde o primeiro é corruptela de João Boto (antigo povoador), o segundo é corruptela de João Boieiro (talvez habitante ou proprietário deste lugar) e o terceiro é o nome de um primitivo engenho de moer cana-de-açúcar.

Trapiche
Arquipélago de Cabo Verde

(Foto Amigos de Paúl)

O lugar, onde se situava o trapiche (o engenho), passou-se a designar pelo sítio do Trapiche. Neste, foi construída uma Quinta com mesmo nome (Quinta do Trapiche), com casa de campo e capela anexa, dedicada a Santana (Santa Ana) e São João, edificada no ano de 1814 pelo seu proprietário, o Sargento-mor João António de Gouveia Rego. Foi nesta Quinta que, no ano de 1923, os «beneméritos Irmãos de São João de Deus estabeleceram um hospital de alienados», com o nome de Casa de Saúde do Trapiche ou Casa de Saúde de São João de Deus, segundo o Elucidário Madeirense.
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Sítio do Trapiche - Santo António - Funchal
(Casa de Saúde de São João de Deus ou Quinta do Trapiche - foto do autor)

O topónimo Trapiche, alguns anos a esta parte, passou a “sinónimo” de hospital de alienados ou psiquiátrico, sendo comum e vulgar dizer-se que “se está louco vai para o trapiche”. Por outro lado, o vocábulo “trapiche”, presentemente na linguagem popular madeirense, designa “local de barafunda ou casa de loucos”, ou simplesmente, local onde existe “muita confusão onde ninguém se entende”, ou seja, um “trapiche”. Assim, o termo anterior citado, “trapiche”, com o passar dos anos será sempre sinónimo de “confusão ou barafunda” fazendo parte dos regionalismos locais. Por tudo isto se pode deduzir que, muitas vezes, se torna difícil investigar a origem dos topónimos de qualquer região.

Solar dos Esmeraldos
(Lombada dos Esmeraldos, conhecida pela Lombada da Ponta do Sol - foto do autor)

Que quererá significar o topónimo Jangão, sítio da Freguesia da Ponta do Sol, sede do antigo morgadio do Vale da Bica, instituído em 1522 pelo flamengo João Esmeraldo? Terá a sua origem em vocábulos africanos ou indianos, trazidos por escravos? Do vocábulo Jangão, tudo leva a querer que tenha relação com o vocábulo Jangal (floresta selvagem, selva, mata densa, ou simplesmente, local deserto ou ermo), ou jangaz (indivíduo muito alto e desajeitado, jangana)? Seria alcunha do citado proprietário ou de algum seu herdeiro? Em que ficamos!?

Vale de Machico
(Foto do autor)

E o Machico (Machiquo)? Que tanta tinta fez correr em palavras na lenda de Machim, passando pelo marinheiro de barca, caravela ou nau, de nome Machico! O cartógrafo Benedetto Bordone (Veneza, 1528) atribui-lhe ao topónimo de Moncrico! (1) Os primeiros navegadores e descobridores ao avistarem o profundo e lindíssimo vale de Machico, não se terão recordado do verdejante Monchique do reino do Algarve! Machico será a corruptela de Monchique? E, por falar de Monchique, recorda-se que num mapa de Portugal de Fernando Álvaro Seco, publicado em Roma em 1561, este topónimo é denominado de Mochiques (Móchique) (2). Cem anos depois (1662), Pedro Teixeira Albernaz intitulou-o de Montachique no seu mapa! (3) Contudo, não queremos entrar em igual debate, narrado no Elucidário Madeirense no artigo «Machico (Origem do nome de)» (4), entre o grande escritor Camilo Castelo Branco, no seu livro «Historia e Sentimentalismo» (Lenda de Machim), e Pinheiro Chagas em 1879. Por outro lado, não somos especialistas em toponímia, filologia ou etimologia, para nos ocuparmos sobre a complexidade destes temas.

Pico do Poiso e Poiso
(Foto do autor)

Finalmente, outros mais topónimos aqui se poderia enunciar, onde em complemento à nossa "fértil" imaginação nos leva para as dúvidas e fantasias. Porém, qualquer tentativa de interpretação ou investigação de topónimos de qualquer lugar, estaremos sujeitos à crítica colectiva, em que se julga "o ser pode não o ser", e daí, a complexidade dedutiva relativamente à toponímia do Arquipélago da Madeira, de qualquer região ou lugar.
Para tal, nesta "andada se Trompica, ao subir por um Arrebentão, no cimo da Assomada, ao passarmos rápido pela Corrida, logo a seguir ao Passo, descansamos no Poiso, logo abaixo da Portela, vendo ao longe o disfarce do Bugio"!

Ilhas, Deserta Grande e Bugio
(Foto do autor)

Notas:
(1) - Governo Regional da Madeira (1986). Actas do I Colóquio Internacional de História da Madeira. Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal. Volume I, página n.º 147.
(2) e (3) - ALEGRIA, Maria Fernanda (1986). O Povoamento a Sul do Tejo nos séculos XVI e XVII, Análise Comparativa Entre Dois Mapas e Outras Fontes Históricas. Revista da Faculdade de Letras - Geografia. Porto. I Série Vol. I pag. 179 e 206, (Povoações do Distrito de Faro). (pdf).
(4) - SILVA, Padre Fernando Augusto da, MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal. Volume II pág. n.º 296 (Machico - Origem do nome de).
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Preâmbulo

Genericamente no Arquipélago da Madeira, a toponímia perfilha muitas vezes, a relação cultural - religiosa com as localidades, na interacção dos seus habitantes, onde se pode incluir o usufruto e propriedade dos lugares, existindo em muitos casos, topónimos com origem em antropónimos.
Igualmente, outras referências toponímicas no arquipélago madeirense têm uma proveniência quase "natural", que indicam uma contingência geográfica, classificação geomorfológica, fitológica e faunística, a existência de determinado acontecimento, facto ou fenómeno, relacionando-se com a sua origem ou não, numa linguagem popular e arcaica. Neste sentido, muitos topónimos, aparecem-nos sob a forma de substantivos ou nomes, que podem ter ou não, um carácter elucidativo ou descritivo do lugar, que praticamente desapareceram do vocabulário do dia a dia dos madeirenses e porto-santenses.
Poderemos ainda nos aventurar a expressar, que na comparação com a toponímia de outros espaços geográficos, que pela sua semelhança e acepção, leva-nos a concluir que a origem ou significado etimológico da mesma, relaciona-se genericamente com a origem geográfica dos madeirenses e porto-santenses, para além de poderem ter sofrido modificações ao longo de cinco séculos, mesmo havendo topónimos únicos de cariz regional.
Neste singelo ensaio, propusemo-nos a tentar contribuir para um modesto esclarecimento da origem, significado e tentativa de interpretação, dos topónimos do arquipélago madeirense, embora correndo o risco de muitas vezes fundamentarmos as nossas explicações, com um mero “devaneio toponímico” ou suposições mais ou menos imaginativas, que por vezes poderão estar afastados da veracidade. Muitos topónimos serão quase totalmente desconhecidos, não só pela sua complexidade e “compreensão etimológica”, como por corruptela.
Temos um trabalho intrincado e demorado pela frente, e tentaremos apresentar a recolha possível e interpretação da toponímia rústica madeirense, por ordem alfabética, de “A” a “Z”, efectuada sob o ponto de vista do interesse histórico - cultural (não científico), ilustrando-se com fotos, tendo por base como fontes bibliográficas principais: COSTA, J. Almeida e MELO, A. Sampaio (1990). Dicionário da Língua Portuguesa (1990). Dicionários “Editora”. 6.ª Edição. Porto Editora Lda. Porto. FRUTUOSO, Gaspar (1998). Saudades da Terra - Livro II. Palavras prévias de João Bernardo de Oliveira Rodrigues e revisão de texto e reformulação de índices por Jerónimo Cabral. Instituto Cultural de Ponta Delgada. Ponta Delgada. SERVIÇO Cartográfico do Exército (1974). Carta Militar. Serie P 821. Edição 1 - S. C. E. P. (Trabalhos de Campo de 1965). Lisboa. NORONHA, Henrique Henriques de (1996). Memórias seculares e eclesiásticas para a composição da história da diocese do Funchal na Ilha da Madeira. Secretaria Regional do Turismo e Cultura. Centro de Estudos de História do Atlântico. Funchal. SILVA, Padre Fernando Augusto da e MENESES, Carlos Azevedo de, (1984). Elucidário Madeirense. Fac-símile da edição de 1946. Secretaria Regional de Turismo e Cultura - Direcção Regional dos Assuntos Culturais. Funchal. Volumes I, II e III. SILVA, Padre Fernando Augusto da (1934). Dicionário Corográfico do Arquipélago da Madeira. Edição do Autor. Funchal. SILVA, Padre Fernando Augusto da (1950). Vocabulário Madeirense. Edição da Junta Geral do Funchal. Funchal. Assim, seguimos o objecto desta simples página – Lugares:


Post-Scriptum:
- Como exemplo da complexa origem da toponímia madeirense e com o rigor nato e científico do seu autor, aconselha-se a consultar o artigo abaixo indicado!




Arquipélago da Madeira - Lugares

Lugares - (Página em Construção)


- BARREIRA (Sítio da), Bardo

- BARCELOS (Sítio e Pico dos)

- BANDA DE ALÉM ou BANDA D’ALÉM (Sítios da)

- BALSEIRAS (Sítio das)

- BALCÕES (Sítio, Pico e Miradouro dos)

- BALANCAL (Sítio do)

- BAIXO (lugares, sítios, caminhos, ruas, ilhéu e pico de)

- BABOSAS (Sítio, Caminho, Largo e Miradouro das)

- AVICEIRO e Aviceiros (Sítios e Lugares)

- ATALAIA (Sítio, Ponta e Pico da)

- ASSOMADA e Assomadouro (Sítios)

- ASSOBIADOURO (Pico do)

- ARREBENTÃO (Sítios, lugares e caminhos do)

- AREEIRO (Sítio do), Chão do Areeiro e Pico do Areeiro

- ARCO da Calheta, Arco de São Jorge e Arco Pequeno

- ALVINO OU SERRA DE ALVINOS (Sítio do)

- ALPIRES (Sítio e Pico do)

- AJUDA (Sítio da)

- ALHENDROS (Sítio dos)

- ALEGRIA (Sítio da)

- ÁLAMOS (Sítio e Lugar, dos)

- ÁGUA DE PENA, Pena ou Penha e Pena de Água

- ÁGUA DE ALTO (Sítios de)

- AGOSTINHO (Ilhéu de)

- ACHADA, Achadas e Achadinha

- ABRA (Baía da Abra ou Baía d’Abra)

- ABEGOARIA (Sítio da)

- TOPÓNIMOS do Arquipélago - Lugares


In Madeira Gentes e Lugares



Loiral - Paul da Serra
(Foto do autor)


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